O mistério da ‘Cruz da Moça'; fanatismo, tragédia ou mais uma lenda urbana de Serra Talhada?
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Por Paulo César Gomes, com colaboração de Alejandro García
Serra Talhada é uma cidade onde floresce inúmeras lendas e mitos, muitas das quais se confundem com a história da própria cidade. Dentre os vários episódios que habitam o imaginário popular, um merece destaque, a origem da capela da “Cruz da Moça”. Fanatismo, tragédia ou só mais uma lenda urbana?
Foi com intuito de responder essas indagações que eu e o inoxidável repórter fotográfico do FAROL, Alejandro García, adentramos pelas ruas do bairro São Cristóvão, em busca de algumas respostas. Nosso trajeto iniciou-se pela capela da Cruz da Moça, onde de lá partimos em busca do homem que é o responsável pela reforma e pela chave do templo religioso.
Com base nas informações dos populares chegamos até a casa do simpático João Faz Tudo, um senhor aposentado de 76 anos, que nos deu informações preciosas sobre a lendária capela.
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UM CRIME PASSIONAL QUE ABALOU A CIDADE
Seu João nos contou que em meados da década de 1960, onde hoje fica localizada a movimentada Avenida Afonso Magalhães, existia uma pequena estrada de terra cercada por várias árvores e arbustos, que dava acesso a um chafariz que foi construído pelo ex-vereador Saraiva de Alencar, que ficava no início da PE – 350.
Foi nessa estrada de terra que em 1966 foi brutalmente assassinada a jovem Maria do Carmo, que acabou sendo imortalizada com alcunha de “a moça”. Várias são as versões que levaram a morte da garota, no entanto, a que prevalece é a de crime passional. Uma das mais conhecidas é narrada pelo próprio João Faz Tudo.
Segundo o aposentado, uma senhora ficou com ciúmes da moça, pois o seu marido havia se engraçado pela bela morena. E por essa razão ela chamou Maria do Carmo para pegar água no chafariz e no meio do percusso desferiu vários golpes de faca na moça, levando-a a óbito.
Já dona Adeilde Gomes, nos narrou que Maria do Carmo foi assassinada porque o seu irmão não queria namorar a mulher que veio a cometer o crime. O fato é que o crime repercutiu em toda a cidade, o que fez com que a cadeia de Serra Talhada – que ficava onde hoje é localizado o Fórum – recebesse centenas de curiosos, que queria visitar a responsável por aquele crime bárbaro.
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O julgamento foi um dos maiores acontecimentos jurídicos já registrados na cidade até então, e em função da comoção popular, o júri acabou sendo realizado no Clube Intermunicipal de Serra Talhada (CIST), já que o Fórum – atual Casa da Cultura – não comportava a quantidade de pessoas.
O debate entre o promotor e o advogado de defesa, o Sr. Neco Maranhão, fui muito acalorado, e mexeu com as emoções dos presentes. Em um dos momentos mais tensos, o irmão da vítima exibiu o vestido ensanguentado usado por Maria do Carmo no dia fatídico. Porém, apesar da pressão da opinião pública, a ré acabou absolvida.
DE UMA GRAÇA ATRIBUÍDA A JOVEM MARIA DO CARMO NASCE A CAPELA DA CRUZ DA MOÇA
Poucos dias depois do assassinato, a família de Maria colocou uma simples cruz de madeira aonde ela havia tombado. O local exato onde a cruz foi fincada hoje é uma esquina da Avenida Afonso Magalhães. A singela cruz começou a atrair atenção dos moradores da cidade ganhando maior dimensão a partir do momento em que uma senhora, por nome Deolinda, conseguiu ter uma promessa atendida. A senhora atribuiu “a moça” a graça alcançada.
Como forma de pagar a promessa, dona Deolinda vendeu uma casa e comprou um terreno no alto de um serrote – cercas de duzentos metros do local do crime – e lá construiu a “cruz da moça”. O serrote que antes era um pedregulho foi gradativamente sendo ocupado e urbanizado com o passar dos anos, bem como o crescimento do fascínio que a história da cruz da moça exerce sobre os serra-talhadenses de diversas gerações.
Em 2011, dona Deolinda passou a responsabilidade de cuidar da pequena capela para Seu João Faz Tudo. Foi pelas mãos de Seu João que a capela foi reconstruída e ampliada. Foi dele (João) a iniciativa de construir uma cruz de ferro com o nome de Nossa Senhora do Carmo e da Moça, o aposentado também elaborou os desenhos da fachada e assentou o piso do templo.
Ao mesmo tempo que descreveu todo o processo de construção da nova capela, Seu João citou os nomes dos empresários que o ajudaram na realização da obra e o de dona Conselho Lima, responsável pela doação da energia que ilumina a capela. Para o homem que recebeu o apelido de Faz Tudo, cuidar da capela é uma das grandes missões de sua vida.
Anualmente, mais precisamente no mês de julho, é realizado um novenário no local. A festividade católica é acompanhada por dezenas de fiéis dos bairros São Cristóvão e do Alto da Conceição, e de vários grupos religiosos do centro da cidade. A missa de encerramento é antecedida de uma procissão e a celebração fica a cargo do Padre Maciel.
Na próxima semana iremos compartilhar com os amigos faroleiros um pouco mais sobre a vida de Seu João Faz Tudo. E se alguém tem alguma história curiosa que gostaria de contar ou gostaria que ela fosse esclarecida, entre contato com a gente, que a equipe do FAROL DE NOTÍCIAS terá o prazer em desvenda-la!
Um bom domingo a todos!
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